
Este foi o meu obstetra: Luiz Fernando Pereira Leite.
Grande profissional e muito atencioso, ele atende junto aos seus dois sócios na Clinnique Ginecologia e Obstetrícia em São Paulo - SP.
Além de ter acompanhado as minhas duas últimas gestações, ele revisou por completo o livro que escrevi, no que tange a área médica e foi o principal incentivador para que eu o publicasse, indicando o caminho certo a tomar e dando-me forças para que eu não desistisse deste projeto.
Vejam na íntegra, a matéria que ele escreveu, a qual foi publicada na revista Única - Editora Globo, como complemento da reportagem sobre a minha trajetória para ser mãe:
Cerclagem Para a Vida
Incompetência Istmo Cervical (IIC) é um defeito do canal cervical que perde, ou não tem congenitamente, a capacidade de suportar o peso da gravidez sem se dilatar, sendo responsável em média de 23% dos abortos espontâneos tardios no 2º trimestre.
As mulheres portadoras desta doença apresentam história característica, em que a dilatação do colo uterino se dá sem sintomas até que haja a rotura das membranas devida à exposição das mesmas ao ambiente vaginal, o que é seguido por trabalho de parto ou de abortamento rápido, pouco doloroso e sem sangramento expressivo. A criança nasce viva, mas sofre índices elevados de morbimortalidade em razão da prematuridade.
Para evitar este desfecho ocasionado pela IIC, logo depois da descrição da doença, a circlagem foi sugerida como tratamento capaz de evitar esta perda gestacional.
Circlagem significa sutura em bolsa e foi idealizada como maneira de manter o colo fechado, impossibilitando anatomicamente sua dilatação antes do final da gravidez, evitando, assim, a prematuridade.
É realizada sempre após a 12ª semana de gestação e, preferencialmente antes da 20ª semana de gestação.
Palmer, em 1948, e Shirodkar, em 1955, descreveram os primeiros procedimentos para corrigir temporariamente esta insuficiência.
Em 1957, foi sugerida por McDonald a técnica de circlagem por via transmucosa, mais simples e com menos complicações. Estas duas técnicas são realizadas por via vaginal e constituem a base de todas as variações descritas até o momento.
Infelizmente muitos médicos não suspeitam da insuficiência cervical por falta de experiência ou de conhecimento. Estes desconhecem ou não valorizam a história clínica da paciente, que nos faria pensar na IIC e deixam de fazer o diagnóstico a tempo, ocasionando o aborto espontâneo tardio e parto prematuro.
A verificação de um colo uterino curto (com menos que 2,5 cm) é indício de alto risco de prematuridade e pode ser o primeiro passo para se identificar a IIC em pacientes assintomáticas e sem antecedentes clínicos.
Alguns exames como histerossalpingografia, vela de Hegar número 8, videohisteroscopia são solicitados para a confirmação do diagnóstico da Incompetência Istmo Cervical. Todos são eficientes, mas não há um muito melhor que o outro especialmente porque eles são solicitados quando já se tem uma suspeita clínica, e essa é a mais importante de todas.
A Incompetência Istmocervical, apesar de conhecida há muitos anos, ainda não teve seus aspectos clínicos ainda bem definidos. Nesse cenário, o advento da ultrassonografia transvaginal tem revolucionado nosso conhecimento sobre as funções cervicais na gestação.